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7º CONGRESSO INTERNACIONAL DE ARQUITETURA DA PAISAGEM

Manifesto Poético do 7º Congresso Internacional de Arquitetura da Paisagem: A função social da paisagem

“Uma cidade se lê com o corpo. Atrás da Igreja do Cabral. Uma cidade não se lê com os olhos. Duas quadras acima da praça Zacarias. Uma cidade não se lê com o corpo. Uma cidade se lê com a vida. A vida sabe ler? (...). Uma cidade se lê com tudo. Uma cidade se lê em todas as direções. Uma vida é muito curta para que se saiba de cor mais de uma cidade” [i]. Leminski foi um dos poetas paranaenses que se dedicou a olhar para a paisagem da cidade de Curitiba e colocá-la em versos.

O 7º Congresso Internacional de Arquitetura da Paisagem convida os participantes a pensar sobre e na paisagem com todos os sentidos para além da visão. Ouvir, tocar, sentir e quem sabe até captar no ar as possibilidades que a paisagem que nos circunda oferece frente à uma importante reflexão: qual a função social da paisagem?

Leminski não foi o único escritor paranaense que retratou a paisagem em versos. Helena Kolody, com sua escrita-interior também descreveu a paisagem com um olhar lírico. Ambos nos auxiliam a decifrar cenários de forma inspiradora e refletir, seja doce ou criticamente, sobre realidades sociais inerentes à paisagem. Afinal, “falar das paisagens [...] é mergulhar em nossa cultura, tornando-nos mais conscientes sobre nossa própria identidade" [ii].

O convite para se identificar com o meio-paisagem é um caminho para entender as questões propostas neste evento. É oportuno pensar na paisagem, afinal, ainda nos encontramos num momento em que há uma reabertura dos sentidos e de caminhos sobre o pensamento paisagístico contemporâneo.

Mesmo após tantas décadas de discussão acadêmica e profissional, vislumbra-se a paisagem como um conceito que ainda pode ser (re)pensado e que reverbera possibilidades de ação para enfrentarmos os desafios na área da Arquitetura da Paisagem.

A paisagem do mundo nos atinge constantemente em nossas passagens e paragens diárias, um mundo composto por fixos e fluxos de toda ordem, mas, acima de tudo, sociais. Essas ordens nos integram e nos fazem pensar nas dimensões de uma vida pública. Afinal, se o mundo todo também é paisagem, é válido pensar em uma universalidade paisagística, nem fragmentada e nem diminuída, em nosso cotidiano.

Na busca por uma não-fragmentação, Leminski [iii]é visceral em seu encontro com a paisagem:

Ainda vão me matar numa rua.
Quando descobrirem,
principalmente,
que faço parte dessa gente
que pensa que a rua
é a parte principal da cidade.

O autor nos impele a pensar de forma contundente em enfrentamentos diários pelo direito à paisagem, em dores que talvez não sejam nossas, mas que se refletem na paisagem-mundo e precisam ser pensadas frente aos processos históricos, dimensões humanas e outros temas que se acercam ao pensamento paisagístico.

É através do pensamento poético que a paisagem ganha diferentes contornos. Perceber nas estrofes que sua função não é meramente estética, que ela pode ser um conceito capaz de ampliar nossa compreensão de mundo e nossas experiências sociais frente ao seu devir.

E assim, o 7º Congresso Internacional de Arquitetura da Paisagem faz das palavras de Helena Kolody [iv] as suas e provoca o(a)s participantes a embarcarem em uma Viagem Infinita:

Esta(mos) sempre em viagem.
O mundo é a paisagem
que me atinge
de passagem

 
[i] LEMINSKI, P. Nossa linguagem. n.1, Curitiba: Ed. Leite quente, 1989, p. 19.
[ii] SOUZA, M. A. de. Paisagens do interior: regiões de memória e outros lirismos na primeira poética de Helena Kolody (1941-1951). Uniletras, [S.L.], v. 35, n. 2, p. 287-300, 2013, p. 294.
[iii] LEMINSKI, P. Quarenta clics em Curitiba. 2.ed. Curitiba: Etcetera/Governo do Paraná/Secretaria de Estado da Cultura, 1990 [1976]. s.p.
[iv] KOLODY, H. Viagem no espelho. 5ª ed. Curitiba: Editora da UFPR, 1999, p. 39.

BIOGRAFIA – PAULO LEMINSKI
O poeta curitibano Paulo Leminski nasceu em 24 de agosto de 1944. Além de poeta, Leminski também era escritor, tradutor e professor. De família de origem polonesa, sua poesia tem forte influência étnica.
A poesia de Leminski é considerada, por estudiosos, como sem compromisso, marcada por experimentalismo linguístico e narrativo. O poeta era adepto do movimento da Poesia Concreta, mas não se restringiu somente à essa linha literária.
Publicou seu primeiro poema em 1964, ano em que também assumiu o cargo de professor de história e redação em um cursinho pré-vestibular. Seus textos eram publicados em revistas alternativas e antologias marginais, fugindo ao contexto tradicional da poesia.
Em 1975, Leminski lança a obra ‘Catatau’, um livro de prosa experimentalista considerado bastante polêmico. O livro gerou inúmeras críticas e elogios, fazendo com que Paulo jurasse que jamais escreveria prosa novamente. Em 1980 lança dois livros de poesia. Paulo era casado com a também poetisa Alice Ruiz, tendo duas filhas, Estrela e Áurea.
Leminski é considerado um dos poetas brasileiros mais proeminentes da segunda metade do século XX. Tinha um jeito próprio de escrever poesias, utilizando trocadilhos e ditados populares em suas composições poéticas.
Fascinado pela cultura japonesa, Leminski também escreveu haicais, se tornando um ‘mestre’ da arte fora do Japão. Escreveu letras de músicas e exerceu intensa atividade como crítico literário, tradutor e jornalista.
Leminski faleceu em 7 de junho de 1989 em consequência de uma cirrose hepática.

REFERÊNCIAS
CURITIBA SPACE. Quem foi: Paulo Leminski. Disponível em: <https://curitibaspace.com.br/quem-foi-paulo-leminski/>. Acesso em: 20 out. 2023.
FRAZÃO, D. Paulo Leminski. e-biografia. Disponível em: <https://www.ebiografia.com/paulo_leminski/>. Acesso em: 20 out. 2023


BIOGRAFIA – HELENA KOLODY
Helena nasceu em 1912 na cidade de Cruz Machado no Paraná. Ao longo de sua vida a autora morou em diversas cidades do estado, tais como Ponta Grossa, Rio Negro, Três Barras entre outros municípios. Helena fixa sua residência definitiva em 1930 na cidade de Curitiba.
Além de poetisa, Helena era professora. Foi a primeira mulher no Brasil a publicar haicais. Seu livro de estreia como poeta foi Paisagem Interior em 1941, publicando, posteriormente, dezenas de obras que reverberam até hoje na literatura e poesia paranaense.
Sua poesia é marcada por um lirismo contido que remete à sua trajetória pessoal, destacando paisagens interiores e extrema sensibilidade ao tratar de temas como o tempo, a contemplação, a permanência, a solidão, a memória e a transitoriedade da vida.
A poetisa ocupou a Cadeira de número 28 na Academia Paranaense de Letras. Nas palavras de Leminski, a autora era a ‘padroeira da poesia’. Recebeu diversas homenagens, títulos e prêmios ao longo de sua vida, participando até mesmo de uma produção audiovisual em que foi protagonista.
A autora faleceu em 15 de fevereiro de 2004, deixando um legado poético que ainda influencia obras e escritores de todo o Brasil

REFERÊNCIAS
FRAZÃO, D. Helena Kolody. e-biografia. Disponível em: <https://www.ebiografia.com/helena_kolody/>. Acesso em: 20 out. 2023.
FONTES, L. C. dos S. Roteiro literário: Helena Kolody. Curitiba: Biblioteca Pública do Paraná, 2018.
SILVA, C. Poesia na Escola: Uma Proposta de Leitura de Poema de Helena Kolody. Altamira do Paraná: UNESPAR, 2012.

Curitiba - PR de 27 a 29 de maio de 2024