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   A paisagem é um paradigma fundamental para lidar com os desafios que a Terra tem enfrentado nas últimas décadas. Sua essência holística possibilita que várias dimensões da realidade sejam amalgamadas e, assim, suportem uma ampla gama de atividades profissionais, ligadas ao projeto, ao planejamento e à gestão. A compreensão desse potencial permite o desenvolvimento de propostas justas, inovadoras e sustentáveis para os grandes problemas que estão à nossa volta, desde as desigualdades socioespaciais ao enfrentamento da crise climática.

   Contudo, o Brasil, assim como vários países do mundo, e especialmente os latino-americanos, não possui um marco jurídico que sustente a totalidade inerente  ao conceito de paisagem. Apesar da existência de leis e instâncias administrativas que resguardam o meio ambiente e o patrimônio cultural, dentre outros dispositivos concernentes à paisagem, ela própria, em sua complexidade e transcendentalidade, não aparece de forma contundente nas distintas dimensões da vida pública, apesar de configurar um bem comum, percebido e vivenciado por todo indivíduo. Nesse aspecto, sua universalidade aparece fragmentada e diminuída. 
 
   Pode-se, portanto, afirmar que a sociedade brasileira ainda não assumiu a potencialidade desse conceito, para entender e pensar seu passado, presente e futuro, para refletir sobre sua identidade, ancorada em seu rico e diverso patrimônio tangível e intangível, para agir contra os efeitos das desigualdades que marcaram sua formação e, enfim, para enfrentar as consequências da  crise climática global. É neste sentido que a paisagem deve ser entendida como um direito fundamental e cumprir sua função social. 
 
   Esforços internacionais para fazer valer esse direito, para que, assim, a paisagem possa cumprir sua  função social, já vêm sendo empreendidos desde as últimas décadas. Desde o final do século passado, na formulação da Convenção Europeia da Paisagem – CEP (2000), percebe-se sua crescente valorização como recurso imprescindível para todos os povos dessa porção da Terra. Em nosso continente, algumas ações integram um conjunto de empreendimentos intelectuais e políticos frente à perspectiva aberta pelo convênio europeu. Dentre tantas, pode-se destacar a Carta Brasileira da Paisagem (2010), elaborada pela ABAP, a Carta da Paisagem das Ame?ricas (2018), com a liderança da Federação Internacional de Arquitetos Paisagistas, Região Américas (IFLA-AR) ou (IFLA Américas), a Carta del Paisaje del Equador (2022), trabalho colaborativo que foi premiado na V Bienal Latino-Americana de Arquitetura da Paisagem e, por fim, o esforço inscrito no Convênio Latino-americano da Paisagem, liderado pela LALI, em 2023. Esse sucinto panorama comprova que estamos no justo momento de o Brasil se posicionar firmemente na defesa da função social da paisagem. 

   Mas os desafios para a consolidação desse paradigma são enormes e reverberam na capacidade de consolidação do campo profissional da Arquitetura da Paisagem no Brasil. Aproveitando o evento em Curitiba, o caso paranaense pode ser um interessante motivo para uma parte dessa reflexão. Dado que uma lei estadual exige que municípios tenham Planos Diretores (PDs) para captar recursos financeiros estaduais, desde a promulgação do Estatuto da Cidade (2001), um estudo realizado em 2016* indica as dificuldades da aplicação desse conceito no campo do planejamento urbano. Assim, dos quase 400 PDs aprovados pelas instâncias municipais, foram poucos em que a paisagem era referenciada e naqueles em que tinha certo protagonismo nos documentos, ideias restritivas e modelos-padrão eram a tônica dessa presença. 

   Por outro lado, observando as questões no campo da formação e ensino, é sabido, que a quantidade de disciplinas e carga horária dedicada à reflexão e debate das questões que emanam da paisagem é, cada vez mais, agravada pela incisiva diminuição de sua presença na grade horária dos cursos, sob diversos subterfúgios. Contudo, é importante ressaltar o grande valor agregado da produção científica sobre a paisagem em teses e dissertações nos Programas de Pós-Graduação nas áreas da CAPES de Arquitetura e Urbanismo e Design e de Planejamento Urbano e Regional e Demografia, provando a efetiva contribuição da academia para a consolidação do campo do conhecimento. 

* CAETANO, F.; ROSANELI, A. A paisagem no Plano Diretor Municipal: uma reflexão sobre sua referência na legislação urbanística dos municípios paranaenses. In: EURE, 45, 134, pp.193-212, 2019. 


  Com essa preocupação, a ABAP faz esta chamada pública à comunidade profissional, acadêmica e científica para apresentar e divulgar suas práticas e atividades profissionais, suas pesquisas, seus projetos de ensino e extensão, dentre outras possibilidades, com o objetivo de discuti-las e compor um quadro geral enquanto expressão de nossa contribuição para o contínuo processo de aprendizado e defesa da paisagem. Para tanto, as contribuições deverão ser enquadradas nos seguintes eixos temáticos:

Direito à paisagem;
Dimensão humana do projeto, do planejamento e da gestão da paisagem;
Dimensão biofísica do projeto, do planejamento e da gestão da paisagem;
Dimensão histórica e patrimonial do projeto, do planejamento e da gestão da paisagem;
Processos formativos sobre a paisagem;
Tecnologia e inovação na paisagem.

CONHEÇA MELHOR OS EIXOS TEMÁTICOS DO 7° CIAP

Os eixos temáticos foram pensados para fornecer ao participante as linhas de pesquisas e produção profissional mais importantes e inovadoras da área! Verifique as ementas e escolha o que mais se adequa ao seu trabalho!

Um direito pode ser compreendido como uma construção social, quando em dado momento histórico, fundamenta-se um núcleo inviolável, um marco que visa garantir, através da política, a liberdade, a igualdade e a dignidade humana. Constitui-se, duplamente, como uma limitação imposta aos poderes do Estado e como um reconhecimento objetivo da relevância de seu conteúdo para um dado arranjo social. Neste sentido, pode funcionar como possível plataforma para a exigência do cumprimento de omissões dos poderes públicos, transformando-se também em utopia orientadora para a luta social. Por sua vez, a paisagem, dada sua natureza difusa e campo de disputas epistemológicas, possui limitado alcance como um arcabouço que fundamente um direito social ou cultural, em muitas sociedades. No Brasil, ainda que presente em vários contextos legais e normativos, aplicado por distintas esferas administrativas e estudado e investigado por vários campos do conhecimento, ainda carece de maior penetração na dimensão jurídica. Dado que interagimos com outros seres vivos na Terra e com a própria, o direito à paisagem pode se estabelecer como uma forma de efetivar formal, material e rotineiramente uma relação mais holística, justa, equitativa e sustentável com a vida. Assim, configura-se como uma expansão dos direitos humanos e um modo de amalgamar variadas possibilidades de se pensar o mundo. Para tanto, os trabalhos desse eixo procuram indicar os limites e as potencialidades para que se faça valer a função social da paisagem.
 
Palavras-chaves: Ética, princípios e valores, Racismo ambiental, Justiça Ambiental, Landscape democracy, Landscape citizenship, Inclusividade, Acessibilidade, Design participativo, Ativismo comunitário, Codesign, Desigualdade socioespacial, Envelhecimento, Função social da paisagem, Turismo, Segurança pública, Segurança Alimentar, Espaço público, Espaço livre, Prática projetual, planejamento e gestão.
 
Coordenador(a):
Alessandro Filla Rosaneli (UFPR)
Muitos são os desafios quando se trabalha a paisagem, seja no projeto, no planejamento ou na gestão, pois ela apresenta dimensões numerosas e complexas. Ao agir sobre ela, o ser humano constrói suas vivências e ambiências, pois nela e com ela realiza suas práticas cotidianas, moldando-a e sendo por ela moldado. A dimensão humana da paisagem é aquela relação mais direta e sensível entre as pessoas e os lugares. Trabalhar esta relação demanda pensarmos nos obstáculos existentes nestes espaços que os tornam menos acessíveis e inclusivos; no enfrentamento do medo; na alteridade; na diversidade; na saúde e no bem-estar; na qualidade ambiental; nas percepções e apreensões possíveis; na noção de identidade e pertencimento; nos deslocamentos diários e tantas outras atividades potencializadas, especialmente nos espaços livres públicos. Estas relações se expressam na paisagem e na forma urbana e por ela são influenciadas, reforçando o papel sensível da Arquitetura da Paisagem.
 
Palavras-chaves: Apropriação, Landscape Perception, Práticas cotidianas, Espaço público, Espaço livre, Acessibilidade, Landscape Perception, Envelhecimento, Enfrentamento do Medo urbano, Forma urbana, Questões identitárias, Saúde e bem-estar na paisagem, Mobilidade urbana sustentável, Mobilidade ativa, Prática projetual, planejamento e gestão.
 
Coordenador(a):
Danielly Cozer Aliprandi (IFF)
Frente aos desafios contemporâneos, dentre eles crise climática e perda da biodiversidade, como podemos refletir sobre uma ocupação do território em consonância com os processos naturais e culturais de sua paisagem? Neste contexto, vem sendo discutida a contribuição de diferentes estratégias verdes urbanas multiescalares para a forma como compreendemos, imaginamos, planejamos e gerimos a paisagem, tais como infraestrutura verde e azul, soluções baseadas na natureza, arborização urbana, floresta urbana, restauração ecológica, dentre outras. Muitas destas propostas respondem aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), enfrentando temas importantes como a questão da redução das desigualdades, igualdade de gênero, cidades e comunidades sustentáveis, água potável e saneamento, energia limpa e acessível, fome zero e agricultura sustentável.
 
Palavras-chaves: Desenvolvimento urbano sustentável, Forma urbana, Ecologia, Agroecologia, Agricultura urbana, Arborização urbana, Floresta urbana, Espaço público, Espaço livre, Gestão dos recursos ambientais, Plantio ecológico, Nature-Based Solutions, Infraestrutura verde e azul, ODS, Paisagens produtivas, Ecoturismo, Pegada ecológica, Sustentabilidade, Crise climática, Climate-wise design, Urban brownfields, Resiliência, Restauração ecológica, Prática projetual, planejamento e gestão.
 
Coordenador(a):
Camila Gomes Sant’ Anna (UFBA)
O atual estágio de urbanização das cidades brasileiras, as profundas desigualdades que marcaram sua formação social e os impactos decorrentes desses processos, expressos nas paisagens urbanas e rurais, com a descaracterização ou supressão de espaços livres, a mutilação de referências históricas e a ocupação e contaminação de áreas ambientalmente sensíveis, exige a reflexão e a atuação sobre bases sustentáveis e inclusivas. Nesse sentido, o conhecimento sobre a história das paisagens e a valorização dos sítios de valor cultural torna-se fundamental para o enfrentamento dos desafios postos à sociedade contemporânea. Impõe-se a necessidade de compreender a formação histórica das paisagens brasileiras, aí incluídos espaços livres basilares como praças, parques e jardins, entre outras tipologias de espaços livres públicos e de espaços verdes urbanos, bem como o estabelecimento de ações de preservação do patrimônio paisagístico, nas suas dimensões tangível e intangível, afirmando a contribuição do campo da Arquitetura da Paisagem, no âmbito do projeto, do planejamento e da gestão.
 
Palavras-chaves: Patrimônio, Valores patrimoniais, Identidade cultural, Arte pública, Paisagem Urbana Histórica, Paisagem Cultural, Restauração e conservação de paisagens históricas, Saberes tradicionais, Sabedoria dos povos originários, Turismo cultural, Prática projetual, planejamento e gestão.
 
Coordenador(a):
Aline de Figueirôa Silva (UFBA)
No Brasil, a formação em Arquitetura da Paisagem se desenvolve em um contexto interdisciplinar e generalista dos cursos de graduação em Arquitetura e Urbanismo. No ambiente acadêmico construído pelos ateliês de projeto, as atividades de extensão e os grupos de pesquisa vivenciam-se ideias, desenvolve-se habilidades, aprimora-se a visão crítica, consolidam-se fundamentos, abre-se a possibilidade de renovar o pensamento e as ações da sociedade sobre a paisagem. Esta formação acadêmica tem se tornado cada vez mais desafiadora pela diversificação do estudo de temas pertinentes à realidade brasileira – rica, complexa e desigual – em contrapartida à redução da oferta de disciplinas que tratam objetivamente as questões da paisagem. O desafio se põe sobre os cursos de graduação, mas também para os cursos de pós-graduação. Há a necessidade de se integrar essas áreas para o enriquecimento da formação como um todo, em especial, do ensino de graduação. Assim, para contribuir à discussão das questões relativas ao ensino da Arquitetura da Paisagem, este eixo propõe discussão: dinâmicas metodológicas integradas para a apreensão e reflexão crítica sobre a paisagem na formação do arquiteto e urbanista; interfaces da realidade da paisagem brasileira e da América Latina e sua aplicação na formação profissional; abordagens e temáticas contemporâneas para o estudo da paisagem brasileira; atividades de extensão como recurso metodológico para o aprendizado do campo da Arquitetura da Paisagem.
 
Palavras-chaves: Formação em Arquitetura da Paisagem; Metodologias e recursos didáticos; estudos integrados; estudo das paisagens brasileira e latino-americana; ensino de projeto e planejamento; extensão aplicada à formação.
 
Coordenador(a):
Gutemberg Weingartner (UFMS)
O avanço das tecnologias tem possibilitado melhoria na qualidade de vida dos seres vivos no planeta. Em conjunto com as inovações tecnológicas e com atenção às necessidades sociais, às restrições econômicas e ao desenvolvimento ambientalmente sustentável, pode-se proporcionar diversos benefícios para a população, como a modernização dos serviços públicos e das infraestruturas urbanas, a transformação digital da produção nos vários setores da economia e do cotidiano das cidades, o aumento da eficiência no uso de recursos naturais, na salvaguarda da biodiversidade, dentre outros. Tal cenário exige das cidades um processo contínuo de renovação da sua forma de produzir e de se organizar. No campo da Arquitetura da Paisagem, novas técnicas construtivas e novos materiais são aliados importantes para que a inovação aconteça na prática profissional, ou seja, nos projetos, nos processos de planejamento e na gestão, com incorporação nas políticas públicas, nos programas e nas ações de desenvolvimento, de forma contínua e sistêmica. Os desafios são enormes, especialmente na consolidação de um atendimento inovador, produtivo, de investimento em capital humano e social, inclusivo, equitativo, harmônico com o meio ambiente e o mais ampliado possível à toda sociedade, para que também seja usado no combate à segregação socioespacial e às dificuldades impostas pela crise climática.
 
Palavras-chaves: Novas tecnologias construtivas; Novos materiais construtivos; Novas técnicas construtivas; Inovação em Arquitetura da Paisagem, Economia criativa na paisagem; Cidades inteligentes; Prática projetual, planejamento e gestão.
 
Coordenador(a):
Raquel Weiss (UFSM)

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